A recente disputa global por terras para o plantio de grãos voltados à alimentação ou produção de biocombustíveis deverá abrir de vez as portas para os transgênicos no mundo, na avaliação do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), baseado em Nova York, nos Estados Unidos.
Clive James, presidente do conselho de administração do ISAAA, estima que a área cultivada com transgênicos deverá superar 200 milhões de hectares até 2015. Haverá um rápido avanço no cultivo de culturas geneticamente modificadas em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia , afirmou James, em entrevista concedida por telefone.
Hoje existem 16 variedades de alimentos aprovados no mundo para plantio comercial, mas apenas oito são cultivados - soja, milho, algodão, canola, alfafa, arroz, mamão papaya e abóbora. Na safra 2006/07, a área cultivada com transgênicos no mundo atingiu 102 milhões de hectares, tendo como principais culturas a soja, que respondeu por 62% do total cultivado, milho (%), algodão (%) e canola (%). Em relação à produção total de cada cultura, 59% da soja cultivada no mundo é geneticamente cultivada. Esse índice é menor no milho (%), no algodão (%) e na canola (%).
Para os próximos oito anos, o ISAAA prevê a aprovação em ritmo mais rápido de novas variedades, especialmente nos países da Ásia, América Latina e África. No caso brasileiro, ele cita o lançamento, até 2010, de variedades de cana mais produtivas e tolerantes a doenças. No mundo, no entanto, a expansão ainda ficará concentrada em soja, cana, trigo e arroz.
James cita como pesquisas mais próximas da fase comercial variedades de milho tolerante à seca, que deve chegar ao mercado em 2010, e de variedades de soja, milho e trigo também tolerantes ao estresse hídrico. Hoje a agricultura consome 70% da água potável no mundo. Não é sustentável expandir a produção utilizando todo esse volume de água , afirma ele.
Outra tecnologia que deverá contribuir para o avanço do plantio de transgênicos será a liberação de uma variedade de arroz enriquecido em vitamina A (conhecido como arroz dourado), que também deve ser lançado até 2010.
Hoje 22 países cultivam transgênicos e há outros 29 que apenas consomem. Até 2015, o número de países que plantam deve passar de 22 para 40 e o número de agricultores pode passar dos atuais 10 milhões para 100 milhões , prevê James. Ele estima que existam 200 milhões de produtores de arroz no mundo e, caso o arroz dourado seja aprovado para plantio na Ásia, pelo menos 80 milhões de produtores tenderão a adotar a cultura.
Ele cita o caso recente da Índia, que iniciou o plantio de algodão transgênico em 2002, com 50 mil hectares, e na última safra plantou 3,8 milhões de hectares da pluma transgênica. Os produtores da Índia aumentaram a sua rentabilidade em 88%, ou o equivalente a US$ 250 dólar por hectare, com economia no uso de insumos. E o mesmo ocorreu na Argentina, no Brasil e em outros países , observou.
O ISAAA estima que os agricultores no mundo tenham economizado o equivalente a US$ 24,2 bilhões entre 1995 e 2005 com a adoção de culturas geneticamente modificadas. Houve benefícios econômicos, com redução de custos, aumento da produtividade e aumento das exportações, e há benefícios ambientais, com redução da taxa de resíduos de defensivos no meio ambiente e otimização do consumo de água. Não será possível ao mundo dobrar a produção para atender à demanda por comida até 2025, sem adotar transgênicos , diz James.
Para ele, prova de que o avanço dessas culturas será irreversível é o início do plantio de transgênicos em países da Europa , onde já há aprovação para chicória, cravo, fumo e milho transgênicos.
Foto: www.sescsp.org.br